Câncer mata mais na América Latina

Como a pesquisa clínica no Brasil pode mudar esse cenário?

Nora Thormann, de Porto Alegre (RS), teve um linfoma que se desenvolveu em torno de seu implante mamário. Cristina Santedicola, de Salvador (BA), enfrentou por quatro anos um linfoma não-Hodgkin. O que aproxima essas mulheres, além da luta contra o câncer, é que as duas só obtiveram êxito em seus tratamentos porque participaram de pesquisas clínicas nos Estados Unidos.

Enquanto que naquele país há mais de 80 centros de pesquisas para cada 1 milhão de habitantes, no Brasil são apenas dois. A probabilidade de falecer após o diagnóstico é 2 vezes maior na América Latina do que nos Estados Unidos ou na Europa.

As principais barreiras para o desenvolvimento da pesquisa clínica na América Latina, segundo especialistas, incluem a falta de estrutura nas organizações nacionais ou regionais dedicadas a pesquisas sobre o câncer, um número limitado de pessoas qualificadas e especializadas (por exemplo, estatísticos, monitores de estudos, e outros membros operacionais), falta de reconhecimento público da importância da pesquisa clínica, obstáculos legais e regulatórios em alguns países e, criticamente, a falta de financiamento para apoiar investigações.

O Instituto Projeto CURA, organização sem fins lucrativos, que nasceu de uma iniciativa do Latin American Cooperative Oncology Group – LACOG, tem atuado em várias frentes, a fim de fomentar e arrecadar recursos para a realização de pesquisas clínicas.

“Somos uma plataforma de interação e engajamento, que usa da música, arte, design, esporte, moda e eventos para envolver pessoas e embaixadores na luta contra o câncer. Por meios das nossas iniciativas podemos receber doações de pessoas físicas ou de pessoas jurídicas, de maneira direta, com doações via site ou participação nos eventos beneficentes, ou indireta”, explica a psicóloga Fernanda Schwyter, presidente do Cura.

Diante do trágico cenário que se aponta no Brasil, o financiamento privado de pesquisas clínicas é de extrema importância.  Segundo o oncologista Gilberto Amorim (Oncologia D’OR), padrinho da Pesquisa NeoSamba, financiada pelo Projeto CURA, “um dos benefícios da realização de mais pesquisas clínicas no Brasil é que haverá maior oportunidade para que pacientes, especialmente os atendidos pela rede pública, tenham mais acesso a drogas inovadoras, a tratamentos novos e também a tratamentos que já são referência, reduzindo a diferença entre Brasil e os grandes centros internacionais.

Dados INCA

Conforme dados divulgados recentemente pelo Instituto Nacional de Câncer (INCA), para o triênio 2020/2022, o Brasil terá a cada ano 625 mil novos casos da doença. Próstata e mama lideram com mais de 66 mil casos cada por ano. “Houve um aumento de 10% para o câncer de mama em relação a 2018”, explica Amorim.

O número de cânceres de colo uterino, causado em sua maioria pelo HPV, será de 17 mil por ano, mas o oncologista alerta que “é uma doença prevenível com vacina na rede pública para meninas e meninos”.

A obesidade é fator de risco em 11 de 19 neoplasias. Sedentarismo, tabagismo, excesso de álcool e dieta ruim -pobre em verduras, legumes e frutas e rica em produtos processados e industrializados- aumentam o risco de 10 tipos de câncer, conforme o órgão do Ministério da Saúde.

Para Fernanda, fundadora do Cura, é fundamental que haja um trabalho constante de educação e conscientização da população sobre os fatores de risco das neoplasias.

Além disso, a psicóloga reforça que pesquisa e produção de conhecimento local são as principais armas para mudar a condição do nosso continente, em que grande parte dos pacientes recebe tratamentos inferiores aos recebidos em outras regiões do mundo.  Apenas 1 a 3% dos estudos abertos no mundo são abertos no Brasil, afirma.

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