31/5/2021
Cura promove bate-papo no Instagram sobre a pesquisa clínica na pandemia
Como parte da sua missão de democratizar o acesso à informação sobre ciência, o Instituto Projeto Cura segue a tradição de promover lives informativas no Instagram, sempre com convidados renomados da área da medicina e pesquisa. Na quinta-feira (27), o debate foi sobre o status da pesquisa clínica em meio a uma crise sanitária. Os convidados foram os oncologistas e pesquisadores Dra. Heloísa Resende e o Dr. Fábio Franke, a mediação foi realizada por Fernanda Schwyter, presidente do Instituto Projeto Cura.
Na live, discutiu-se como a pandemia tornou difícil a continuação do tratamento dos pacientes oncológicos pelo risco da doença. Além disso, Dra. Resende e Dr. Franke afirmam que o medo de se dirigir aos hospitais, além da falta de vagas no Sistema Único de Saúde (SUS), gerou subnotificação de novos casos de câncer. “Diante da pandemia as pessoas não estão tendo a oportunidade de receber diagnóstico. Essa situação gera uma previsão ruim para os próximos anos, porque o tratamento precoce é essencial contra o câncer. Assim, haverá um aumento no número de pacientes precisando de tratamento emergencial contra doença e o SUS terá dificuldades de assistir a esse acúmulo de pessoas que virá”, lamentou Dra. Heloísa Resende.
A solução para “desafogar” o SUS seria o investimento e desburocratização do acesso a pesquisas clínicas que estudam tratamentos e curas para os mais diversos cânceres. Porém, do mesmo modo que a chegada da COVID-19 acelerou processos de colaboração científica e popularizou a importância da pesquisa para a população leiga, surgiu certa desconfiança acerca dos testes e pesquisas clínicas. De acordo com o Dr. Fábio Franke e Dra. Heloísa Resende, houve uma perca de referência. “A pesquisa caiu na boca do povo, o que foi positivo, mas em que pesquisa a população deve acreditar? Há tanto negacionismo e Fake News. O desafio é: como filtrar a informação sendo leigo?”, questionou Dra. Heloísa Resende. Para o Dr. Franke, “a educação precisa se aproximar da saúde, para que assim se possa compartilhar informações sobre vacinas, bons hábitos de saúde e autocuidado”.
Ao final da live, falou-se da necessidade de se publicizar os direitos e deveres do paciente de pesquisa, a fim de desmistificar a crença que tais participantes são cobaias. Também foi defendida pelo Dr. Fábio Franke a urgência em se regulamentar e desburocratizar os estudos clínicos no Brasil, pois o contexto da pandemia nos mostrou o quanto processos mais ágeis são fundamentais para que possamos salvar vidas e ter acesso a tratamentos modernos. O oncologista é um dos defensores do projeto de lei 7082/2017, de autoria da senadora Ana Amélia, o qual pretende regulamenta e agilizar a realização de pesquisas clínicas com seres humanos por instituições públicas ou privadas no Brasil, criando, assim, princípios, diretrizes e regras para a condução de tais estudos.
Não só no contexto da crise sanitária, mas também no tratamento contra o câncer, a regulamentação dos estudos clínicos tem o poder de abrir o Brasil para as novidades da medicina internacional. O Dr. Franke relata que “há uma grande necessidade de novos tratamentos por parte dos pacientes oncológicos que não é atendida porque são poucos os estudos de outros países que conseguem efetivamente chegar ao Brasil. Isso acontece por causa da burocracia e pela falta de previsibilidade. [...] Eu já trabalhei na parte regulatória e demoramos um ano organizando só a documentação. No final, os estudos não abriam no Brasil ou eram cancelados porque simplesmente se encerrava o recrutamento no resto do mundo”.
Na live, o médico ainda explicou que as pesquisas são extremamente organizadas, então há receio dos estudos estrangeiros de se investir em um país em que os processos lentos dificultam saber as respostas dos conselhos éticas e sanitários; quantos pacientes poderão participar do estudo e quando de fato o trabalho poderá ser iniciado. Então, os estudos, que em sua maioria são globais, escolhem os países com cenários mais disponíveis.
Dr. Fábio Franke e Dra. Heloísa Resende encerraram a live deixando a mensagem de que médicos e pesquisadores precisam ter o direito de disponibilizar novos estudos e tratamentos para os pacientes e há grande procura por tais alternativas e interessados em se candidatarem como voluntários das pesquisas.
Para assistir a essa e outras lives siga o nosso Instagram @projetocura.
Texto por Letícia Barbosa